domingo, 18 de outubro de 2009

Pira

Pira

No feriado da semana passada resolvemos dar um rolê na Busa. Isso quer dizer escolher mais ou menos que rumo tomar. O rumo inicial era São Pedro, onde têm as famosas águas e um hotel escola sensacional. Um pouco antes estava Pira, Piracicaba. São Pedro ficava um pouco mais a frente, mas Pira tem história. Com sinais convenci o Hector a rumar pra Pira.

Pira faz parte dos anos dourados da minha vida. Na faculdade, A UNESP em Araraquara, eu morei com mais 5 meninas, 3 delas eram de Pira e a 4a tinha familia lá. Em alguns meses, eu era quase piracicabana. O sotaque do interior de São Paulo é uma coisa, o de Pi~~raaaa é outra coisa.

Tinha muita gente de Pira na faculdade. Na verdade, tinha pouco paulistano. Na minha classe eu era a única. Prá que alguém ia sair de São Paulo prá estudar em Araraquara??? Porque era muito mais divertido, oras. O lance era entrar na Unicamp (Campinas) ou na Unesp (Araraquara). Graças a Deus minha mãe não lê meu blog pra saber que eu sacaneei o exame da USP.

Um dos eventos mais importantes de qualquer universidade no interior é o Baile do Bicho em maio, quando se comemora também a libertação dos escravos. No meu primeiro Baile do Bicho , um dos meninos mais lindos da Economia que estava no 3o ano, veio dar em cima de mim. Uma verdadeira honra! Mas quando ele abriu a boca.... era de Pira. Veio me paquerar, eu toda orgulhosa de na estréia pegar um gato do 3o ano. Aí vem o lindo, gestos de felino, e diz assim: "B~~~roto, vamos ver as est~~~~~relas?" Eu fui, mas na hora não rolou. Desatei a rir com o sotaque do piracicabano. Ele me deu um fora e me disse que paulistano era tudo babaca mesmo. B-A-B-A-C-A mesmo. Só por causa do sotaque deixei de ficar com um dos caras mais gatos da faculdade! Essa história tem quase 20 anos! AimeuDEus. Ficamos amigos depois, mas ele nunca mais me deu bola. E Eu aprendi a deixar de ser uma babaca paulistana.

Ir para Pira era uma festa. Ficávamos na casa de uma das meninas da república, e nossa maior preocupação era arrumar um gatinho no fim de semana. Just it. E nessas, passávamos tardes preguiçosas na Rua do Porto, beliscando um peixinho e tomando cerveja naquele calorzão. A Rua do Porto já era uma pré-balada. Parecia o Guarujá, com a galera sentada tomando cerveja ou sorteve, e os carros passando e azarando. Paquerar os garotos da Agronomia da EASALQ... ou os mauricinhos da cidade mesmo. Tudo ia parar no Flamboyant, que hoje não existe mais.

Eis que quase 20 anos depois, Hector e eu aterrizamos na Rua do Porto, prá comer um peixinho e tomar umas cervejas. Que caloorrrrrrrrrrrrrrr, Senhoorrrrrrrrrrrrrrrrr. Gente muito simpática e amável, o passeio foi ótimo e me trouxe as melhores lembranças. Pena que eu não tinha o telelefone das meninas à mão para ligar. Mas não vai faltar oportunidade. Ir para Pir~~a é muito gostoso e a cidade é ótima. Hector estava todo feliz em finalmente conhecer "O Rio, de Piracicaba....".

Carcanhar de grrrilo, asa de barrrata, caxarrra de fosfro, zócro, zócro, zócro de rayban. A porrrrteirrrraaa abre, a porrrrteirrrra fecha, nheque nheque nheque. Já que está que fique, XIS VÊ , XIS VÊ de Pirrrracicaba (XV de Piracicaba, o time de futebol). Arco, Tarco i Verva (Alcool, talvo e Agua Velva).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Estréia da Busa!

Chegou a Busa!



Chegou a Busa!

No churrasco do meu aniversário eis que eu surpreendo uma galera na garagem fazendo um verdadeiro comitê a respeito da nossa moto, a queridíssima Maria Bonita. Motoqueiro tem um esquema parecido com o de mergulhador: só anda em bando. A questão é que a Maria Bonita é uma moto chopper ("tipo Harley") e o resto do bando tem moto esportiva. Até as esposas estavam no tal comitê tentando convencer o Hector a trocar a Maria Bonita. Uma das amigas veio toda entusiasmada: "Leticia, você não tem noção! Moto speed é outra coisa!".

Na prática, quando o bando sai, as motos speed saem voando e a Maria Bonita fica para trás. Tem um motorzão e é raçuda, mas não acelera no ritmo das outras. TRaduzindo, a Maria Bonita vai até 140 Km/h. Uma moto speed começa em 140 km/h e chega nesta velocidade em segundos.

Com 38 anos, olhei bem a Maria Bonita e com todo respeito lhe disse: "Você é moto de tiozinho". Somos jovens demais para ser velhos (com todo respeito) e ter uma moto de tio. A Maria Bonita é para passear....mas nós queremos é voar.

Hector passou semanas namorando a Hayabusa na Internet. Entrava no You Tube, me mostrava os videos, comparava com as motos do pessoal da nossa trupe. Fui conhecer a Busa ao vivo na loja e foi impossível não se apaixonar. Com a baixa do dólar, ter uma Hayabusa tornou-se um sonho possível. Sonho de menino grande do Hector, a Hayabusa Suzuki é a Ferrari das motos.

O nome Hayabusa é a tradução japonesa para Falcão-peregrino, o pássaro que é capaz de velocidades superiores a 320km/h[2] e é, também, o predador natural (talvez não por coincidência) do blackbird (nome atribuído a várias espécies de pássaros), em uma clara referência à CBR 1100XX Super Blackbird pois, quando foi lançada no mercado, em 1999, tomou o título de motocicleta mais rápida do mundo das mãos da Honda. Mas hoje a Hayabusa é a moto comercial mais rápida do mundo, alcançando 130 km/h em míseros 3 segundos. A velocidade máxima registrada no Guiness Gook é de 317 km/hora.

Caaaaaaalma gente! É muito entusiasmo mesmo, mas só os doidos do You Tube ficam tentando passar dos 300 km/h. Isso é coisa pra maluco mesmo e, se for para tentar, deve ser em pista de autódromo, com equipamento adequado e curso de pilotagem. Junto com a Busa, vieram outras demandas como seguro, localizador, equipamentos. Vestir meu Hector, uma criatura modesta de 1,85 e 100Kg num macacão de couro custou uma nota. Outro dia um amigo caiu da moto, e quando o bombeiro foi cortar o macacão para ver os ferimentos ele teve um chilique. Nem se preocupou muito se tinha quebrado algo ou não. Só gritava: Meu macacão não! Cadê meu capacete? Cadê a minha moto? Felizmente só lascou a clavícula.

Fato é que agora sim temos uma moto sensacional que combina com a gente. Modéstia à parte, é preciso uma certa experiência até para estar na garupa de uma máquina dessas. Não me atrevo a pilotar ainda, mas me dá coceira para ter a miniatura dela, uma Kawasaki Ninja. Ainda estou pensando. Um curso de pilotagem em Interlagos deve ser muito divertido. Mas de repente é mais diversão estar na garupa da Busa mesmo.

Pode parecer um contrasenso eu estar escrevendo sobre a Busa logo depois do post da Felicidade Interna Bruta. Testando o conceito, eu sou mais feliz no dia que ando na Busa. Não se trata de TER a Busa, mas de toda a experiência de liberdade e aventura que ela nos proporciona. Sem falar num motivo a mais para encontrar os amigos, inclusive meu Brother. A moto socializa e em cada passeio aparece mais alguém para ir junto, e assim a gangue vai crescendo.

Motoqueiro não precisa de motivo para andar de moto. Sai até para ir entregar pizza se bobear. Às vezes saem só para "acelerar". Nestes passeios eu não vou. Em geral só vão os homens, que andam quase 400 KM num dia, tomam uma cerveja e voltam felizes....e exaustos.

Na estréia da Busa, eu saí toda exibida, só de top, com minhas asinhas de fora. Era um lindo dia de sol e a gente curtiu andar devagar pelo bairro. Qualquer um fica mais bonito em cima daquela moto. Impossível olhar e não dar uma "invejinha branca", da moto, do piloto, da mulher alada ou do conjunto da obra.

Muita gente me pergunta: Você é louca? Não tem medo? Claro que eu tenho medo. Se não tivesse é que seria louca mesmo!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Felicidade Interna Bruta

Susan Andrews esteve na Natura hoje falando sobre o conceito de Felicidade Interna Bruta. Numa palestra emocionante, a encantadora Susan falou sobre um novo conceito de medição de prosperidade: em vez do PIB (Produto Interno Bruto), o FIB (Felicidade Interna Bruta).

A idéia de medir o FIB é originária do Butão. Hoje a ONU está evoluindo o conceito no mundo todo, baseando-se na ciência edônica, que estuda o que é que traz felicidade para o indivíduo. Os estudos científicos passam pelo estudo do nível de cortisol (hormônio do stress), mapeamento cerebral, das expressões da face, questionários, entre outros. E o assunto vem explodindo como ciência principalmente na Europa e Estados Unidos. Na Europa o país mais engajado em estudar o FIB, incluindo economistas, é a FRança.

Os estudos dizem que pessoas com maior FIB têm o sistema imunológico mais forte, são melhores líderes, mais bem sucedidos, mais produtivos, ganham mais, têm melhor auto estima, casamentos mais estáveis e se saem melhor em entrevistas. Do ponto de vista empresarial, são empresas mais rentáveis e com maior valor de suas ações.

Estamos num ponto de mutação, onde as pessoas e o planeta não suportam mais os excessos, a pressão, competição e o stress. Nos USA foi criado um mito de que a felicidade é ter dinheiro - More is better! Este é o mantra americano. Americana, Susan diz que para viver o sonho americano você tem que estar dormindo, porque se tornou um pesadelo. Vimos um gráfico onde os eixos são melhor (felicidade) x mais (materialismo). A curva é ascente e se acentua do nível de sobrevivência, passando pelo conforto e atingindo seu ápice no luxo. Mas a curva começa a declinar a partir do luxo, ponto chamado de "o suficiente". O ponto onde a curva volta a encontrar o eixo é "demais".


A questão é:será que mais é melhor mesmo? Depois do ponto "suficiente" o nível de felicidade não evolui, ao contrário, começa a declinar. Um estudo diz que o nivel de felicidade dos mais ricos da Forbes depois de alguns meses é semelhante aos dos Amish, dos Inuits que vivem em casas de gelo na Groenlandia ou dos Masais africanos, cujas casas são feitas de estrume. O PIB americano cresceu 3 vezes desde a década de 50, mas o FIB declinou em maior velocidade. Bobby Kennedy já criticava o sistema ao dizer que o PIB mede tudo menos o que faz sentido na vida. E não é à toa que 1 em 4 americamos sofrem de depressão, os índices de obesidade são gritantes, sem falar das paródias novaiorquinas de viver num apartamento minúsculo e rezar para que seu vizinho não fale com você.

A explicação deve ser vista como uma esteira rolante: nosso sistema nervoso se adapta e se acostuma. Por quanto tempo mais riqueza mantém a felicidade?

Num questionamento provocante, Susan pergunta: " O que vc preferiria? Ganhar na loteria ou perder as pernas num acidente de carro?". A resposta parece obvia, mas 1 ano depois as pessoas voltaram ao mesmo nível de felicidade. Lembremos do caso do ator Christopher Reeve e de seu acidente com o cavalo. Apesar de todas as limitações provocadas pelo acidente, ele ainda levantou US$ 25 milhoes para pesquisas para céluas tronco.

Existe então um ponto basal (set point) para a felicidade. 50% do nosso humor é genético. Mas boa parte pode ser alterada transformando nossa bioquímica, mobilizada por hormônios e neurotransmissores. A bioquímica está ligada à secreção do cortisol pelas glândula supra-renais. Esta é a epidemia do século! As pessoas mais felizes têm um nível de cortisol 32% inferior.

A depressão está ligada aos níveis de cortisol e as pesquisas científicas seguem por este caminho. O cortisol cria uma sensação tóxica no organismo que afeta a mente. Até agora depressão sempre foi tratada com aumento de serotonina. Os medicamentos que tratam os níveis de cortisol ainda não foram aprovados pelo FDA, mas podemos tentar reduzir seus níveis de forma natural. A Natura também está realizando pesquisas neste sentido. Os métodos naturais passam por técnicas de relaxamento produndo, massagem, toque e respiração adequada (diafragmática). Bastam 30 segundos de concentração e respiração para baixar os níveis de cortisol.

Então, o que é que traz mais felicidade? Conexão e companheirismo, pertencer a um grupo, por exemplo, convivência harmoniosa. A mudança passa pela cooperação, compaixão e amor. O que os economistas de classe Premio Nobel têm discutido é que se o aumento do PIB não aumenta a felicidade, então estamos usando a métrica equivocada. A comparação é entre a habilidade de produzir e consumir versus a felicidade e a satisfação.

Neste sentido a França está indo além do IDH (indice de desenvolvimento humano) e acrescentando outras dimensões subjetivas e materiais para compor o FIB, mas que podem ser medidas estatisticamente.

O modelo sistêmico tem 9 dimensões: padrão de vida, Educação, Saúde, Acesso à cultura, governança (transparência dos lideres), resiliência ecológica, vitalidade comunitária e no centro do sistema o bem estar psicológico.

Por fim, Susan acrecentou que além destas dimensões é preciso manter um senso de missão na vida, isto é, dedicar-se a uma meta maior. Não trabalhar só em prol de si mesmo, mas para a felicidade comum. Com lágrimas nos olhos ela encerrou dizendo que talvez não veja esta transformação na sua vida, mas que desejava aos mais jovens que possam protagonistas deste novo tempo.

Na Natura será formado um grupo piloto para exercício e reflexão deste novo modelo, do qual seguramente eu vou participar. Trabalho numa empresa em constante transformação, e apesar de que ultimamente meu FIB anda reduzido, em parte pelas demandas de trabalho, vou arrumar tempo para fazer parte desta ação. Seja por curiosidade intelectual, já que são estudos econômicos, seja para levar conceito e aumentar o FIB dos meus amigos e familiares.

Para conhecer mais o tema consulte os sites:
http://www.visaofuturo.org.br/
http://www.felicidadeinternabruta.org/