segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Não sou feita de açucar!

Definitivamente, não sou feita de açucar. Se fosse, já estaria toda derretida de tanta chuva que eu tomei em Belo Horizonte (Beagá) para correr a Volta da Pampulha.

Meu maior temor, além dos 18 KM, era o calor. Mas a previsão para o fim de semana em Beagá era de MUITA chuva. Não deu outra. Não parou de chover o final de semana inteiro! Tudo bem. Fosse chuva, sol, trovoada eu ia correr de qualquer jeito. Essa foi a primeira vez que eu corri fora de São Paulo, planejei, treinei! É quase tão famosa quanto a São Silvestre com transmissão da Globo, quenianos e atletas de ponta do atletismo brasileiro.

Beagá está linda, bem cuidada, vale a pena estar lá. Gente tão simpática, comida ótima, roupas lindas. O Hector não conhecia...pena que não deu para ver muito por conta da chuva. Mas aproveitamos o tempo livre para dar uma passeada. Não deu para meter o pé na jaca na comida mineira. Em véspera de prova seria um desastre. Mas fomos no Dona Lucinha e, como diriam os mineiros, tirei uma provinha. Até uma cachacinha!

Chega a manhã de domingo e estava uma chuvinha. Há 15 dias atrás tinha corrido no Jockey, debaixo de chuva e na lama, então já era uma sensação conhecida - mais ou menos....Hector tentando ser otimista, dizendo que logo ia passar.

A Lagoa da Pampulha é muito linda. Toda arborizada, com obras arquitetônicas do Niemayer, jardins do Burle Marx e pinturas de Portinari. A Capela de São Francisco é uma obra de arte. Em volta da Lagoa, palecetes lindos, fontes, muitas árvores. Essa é a graça de correr os 18 km em volta da Lagoa, num circuito plano com paisagem linda.

Chegamos e o povão já tinha tomado as 2 pistas da avenida que contorna a Pampulha. Muita gente, clima parecido com a São Silvestre. Gente de todo lado, de todos os estados, atletas internacionais e os melhores do Brasil. Nos esprememos perto de uma grade aberta para eu poder entrar. A estratégia é achar uma brecha, se meter rapidinho no meio do povão logo que a buzina da largada tocar, e seja o que Deus quiser!

Acontece que a Lagoa da Pampulha fica num plano mais baixo e muita água e barro descia pelas ladeiras formando uma enxurrada nas canelas dos corredores. Como eu sempre digo, o primeiro kilometro já dá uma pista do que vai ser a prova toda. Meu tênis durou seco por pouco mais que 200 metros, até sentir a água entrando pelas canelas. Chof Chof Chof. Sempre planejo muito bem minha seleção de músicas no iPod. Comecei com Tim Maia e a ultima musica que escutei foi Beautiful Day, do U2. Logo no Km 3 mais um iPod se foi e pifou (já é o terceiro). Mas o dia era lindo mesmo.

Fiquei P da vida em pensar que ia correr os próximos 15 km sem música. Mas acabou sendo mais legal. Ouvir as baboseiras da galera é uma diversão e acho que curti mais a paisagem, o som da chuva, o chof chof dos meus tênis, a torcida na calçada, as batidas do meu coração.

Algumas pérolas que escutei:
- Na frente da Capela de São Francisco: "Quem já estiver morto que fique aqui para receber a extrema unção!"
- Numa enxurrada: "Fulano, você não queria correr no Rio? Olha aí!"
- "No Km 18 eu vou dar uma esticada. Onde? Até o bar? Não, vou me esticar no chão!"
- "Pessoal, a água é self service!"
- "Se não conseguir correr, pode ir nadando!"

Alguns trechos são emblemáticos:
Km 3: Legal, agora faltam 15, e eu sei fazer!
Km 8 : Putz, ainda faltam 10 Km! Mas isso eu faço moleza até na esteira! (com ar condicionado)
Km 9: Putz, ainda tá na metade!
Km 10: Putz, ainda faltam 8 Km!
Km16: Só faltam os 2 a mais que eu nunca corri!
Km 17: Todo mundo gritando "Tá chegando, tá chegando! É logo ali , bem depois daquela curva!" Bem do jeito mineiro - logo ali era 1 Km.

E no Km 18 a maior festa! Sei lá de onde sai força para disparar no último km. Logo na chegada vi o Hector acenando, tirando fotos, sorrindo como sempre. E como sempre eu dou um beijo nele pela grade logo que o vejo. "Você chegou! Vai lá buscar sua medalha!"

É uma felicidade única. Não dá prá acreditar que acabou, que consegui. Foram pouco mais de 2 horas de muita concentração, cuidado para não enfiar o pé em buraco, escorregar, chuva, vento, lama. Mas valeu cada segundo e me lembro de todos eles, das pessoas, dos aplausos, gente que não me conhecia mas gritava "Parabéns Leticia, vai lá!" porque meu nome estava escrito no número de peito. Povo simpático, muita gente de guarda chuva na calçada torcendo.

Se corria 10, resolvi que podia correr 15. Se corria 15, agora vi que deu para correr 18. E agora... se corri 18, vai dar para correr 21! A próxima é a meia maratona de SP. Minto! A próxima são 2 noites rebolando na Sapucaí!